30 de novembro de 2025
Os maiores segredos da humanidade servem de forma recorrente como pano de fundo para obras ficcionais e, no caso das obras de Dan Brown, sempre motivaram a criação daqueles que considero os livros da minha vida. No entanto, nunca tais segredos se mostraram tão importantes para o desenvolvimento de uma narrativa como no seu mais recente lançamento, “O Segredo Final” (Arqueiro, 2025).
O mais aguardado livro do ano traz novamente o famoso simbologista Robert Langdon em uma aventura frenética que promete, desde as primeiras páginas, ser mais uma grande experiência literária. Ambientada na misteriosa Praga, o livro tem tudo aquilo que estamos acostumados e não deixa muito a desejar em relação aos seus antecessores, embora esteja longe de superar as maiores obras que o autor já nos presenteou.
Em “O Segredo Final”, Robert Langdon está na capital checa para assistir uma palestra da cientista Katherine Solomon (a mesma personagem de “O Símbolo Perdido”) sobre suas recentes descobertas. Os estudos de Solomon, que deram origem ao manuscrito de um livro que acabou de ser enviado ao seu editor, podem revolucionar o entendimento científico da consciência humana e isso parece ser algo muito intimidador, capaz de incomodar pessoas muito poderosas. E nesse contexto de uma revolução científica que está prestes a ser divulgada para o mundo, o casal se envolve em uma aventura cinematográfica pelas ruas, locais e mistérios da cidade que é o coração da Europa.
Como é possível perceber com a própria sinopse, o livro segue o mesmo estilo de todos os seus antecessores e em tese isso pode ser visto como defeito, mas para um fã é justamente o que se espera de Dan Brown. Isso quer dizer que não é um problema que a história mostre novamente Langdon sendo forçado a entrar em uma enorme ameaça, deixando o leitor apreensivo desde as primeiras páginas; pelo contrário, essa característica conquista milhões de leitores justamente por seu tom particular.
Apesar disso, “O Segredo Final” tem suas pequenas falhas que anteriormente não existiam ou talvez até mesmo passavam desapercebidas. Como um leitor mais maduro, não é difícil perceber quando o autor parece estar enrolando para apresentar soluções para mistérios que no fim nem são tão impactantes. E quando já se passaram seis livros protagonizados pelo mesmo personagem, isso acaba ficando muito evidente, a ponto de em determinado momento ter me questionado se essa seria a primeira decepção com um dos meus autores favoritos.
Ocorre que dessa vez o foco do livro não são seitas religiosas ou ordens secretas que sempre foram o meu maior interesse nas obras de Dan Brown. Dessa vez a essência está muito mais na citada revolução científica (e nos seus eventuais impactos para o futuro) do que algo que já é cercado de mistérios no próprio mundo real. Por esse motivo, quando fica nítido o rumo que a história irá tomar, o interesse por aquilo que causa o seu desenvolvimento demora para acontecer e durante muitos capítulos paira a dúvida se há a chance de ainda ser surpreendido.
E sim, a dúvida persistiu por um longo tempo, contudo foi plenamente sanada e no fim a qualidade do livro cresce magistralmente, a ponto de me fazer lembrar que, apesar de tudo, ainda estava lendo um legítimo Dan Brown.
Isso significa que apesar de um início pouco empolgante, “O Segredo Final” está cercado de cenários interessantes, misturando muito bem a realidade e a ficção, além de reviravoltas que cumprem o seu papel de causar um ritmo de leitura acelerado. Ao final do livro, aquilo tudo que no início parecia sem sentido e perdido no meio do enredo, mostra-se muito significativo, a ponto de começar a fazer sentido certas escolhas narrativas que foram feitas anteriormente.
Obviamente que essa mudança de perspectiva não lima as falhas que no início saltaram aos olhos. “O Segredo Final” está longe de ser o melhor livro de Dan Brown, porém é capaz de matar a saudade que o hiato desde “Origem” causou em todos os seus leitores e dar um (eventual) encerramento digno à saga de um personagem que fez parte da minha vida como leitor.
Espírito Santo do Pinhal, 30 de novembro de 2025.