13 de julho de 2025
A morte precoce de Ayrton Senna, no fatídico 1º de maio de 1994, afastou muitos brasileiros da categoria mais importante do automobilismo. Não é raro ainda hoje ouvir pessoas lamentando que “depois que o Senna morreu, a Fórmula 1 nunca mais foi a mesma”. O que muitos não sabem é que a categoria continua, sim, sendo um esporte incrível, conquistando um espaço cada vez maior entre os mais populares do mundo, sobretudo pelo empenho de seus organizadores em conquistar as novas gerações sem deixar de agradar os antigos fãs.
Se nos últimos anos a série documental “Drive to Survive” (Netflix) passou a mostrar os bastidores da categoria com maestria, o novo filme de Brad Pitt chega aos cinemas para ampliar o espaço da Fórmula 1 na indústria do entretenimento, utilizando-se do empolgante ronco dos motores para levar o público ao interior do cockpit.
“F1” (2025) conta a história do piloto Sonny Hayes (Brad Pitt), que embora fosse uma grande promessa no passado, nunca alcançou o topo devido a um gravíssimo acidente que sofreu há quase 30 anos e que o tirou das pistas. Sua vida passou a ser disputar pequenas provas em busca de alguns trocados, porém, de forma repentina, é convencido por seu amigo Ruben Cervantes (Javier Bardem) a voltar a correr para salvar a escuderia fictícia ApexGP de um quase e inevitável fim. Em sua missão, Hayes deve apoiar o novato Joshua Pearce (Damson Idris) e provar para o mundo que a ApexGP deve continuar no grid para a próxima temporada.
A premissa do filme por si só não é nada original. Um personagem que está fora de ação, e que aparenta ser o único capaz de causar uma reviravolta, ajuda um jovem inexperiente a conquistar um grande objetivo. Tantos outros filmes na história do cinema apresentam enredo semelhante, no entanto é na forma que a história é contada que “F1” se destaca como um grande filme de ação, justificando a bilheteria bilionária em apenas duas semanas de sua estreia.
Brad Pitt dá vida a um personagem que retrata bem o que ocorre com a maioria dos pilotos. São muitas as promessas que ano após ano surgem como eventuais futuros campeões e não conseguem demonstrar dentro do carro o motivo desse status. Sonny Hayes foi um desses pilotos: um novato excepcional, correndo em uma época que brilhava os maiores pilotos da história, como Senna e Prost, e que teve seu sonho de ser campeão destruído por um grave acidente.
Se isso não fosse o suficiente para motivá-lo a aceitar o convite, o personagem encontra uma equipe devastada em meio ao caos, com poucos motivos para acreditar ser possível alcançar o objetivo. A meta quase impossível é uma motivação a mais e nesse ponto que Sonny Hayes começa a demonstrar porque é diferenciado, elaborando estratégias extremamente arriscadas, que são o foco de toda a ação do filme, e contribuindo para os holofotes voltarem à pequena equipe.
Apesar de as estratégias de Sonny Hayes darem origem a sequências de ação empolgantes, as mesmas cenas reforçam que o foco do longa-metragem não é priorizar a construção das relações das personagens (muitas delas clichês e totalmente esperadas), mas narrar o dia a dia de uma escuderia que precisa se provar, a todo custo, e levar o público a uma imersão dentro e fora do carro.
Além de ser gravado durante alguns GPs de Fórmula 1, mostrando, portanto, figuras conhecidas do público, o longa-metragem é uma grande homenagem ao que de melhor já ocorreu em 75 anos da categoria. Além de relembrar grandes pilotos, citando por diversas vezes o nosso ídolo Ayrton Senna e até mesmo colocando em destaque o seu famoso McLaren MP4/8, o filme apresenta referências a situações reais, como o brutal acidente de Martin Donnelly, no GP da Espanha de 1990, e a explosão do carro de Roman Grosjean no GP do Bahrein de 2020.
No entanto, nada supera à lembrança trazida da disputa memorável de Lewis Hamilton e Max Verstappen, no GP de Abu Dhabi de 2021, que é sem dúvida um dos momentos mais marcantes da história da categoria — e certamente do filme como um todo. Assistir a disputa do filme é rememorar toda a emoção que foi acompanhar ao vivo a disputa mais sensacional de todos os tempos.
Com produção do heptacampeão Lewis Hamilton e desenvolvido com a colaboração da FIA, este é um filme necessário para todos os apaixonados pela categoria, sendo que a experiência imersiva de uma sala de cinema comprova mais uma certeira ação para alavancar o alcance da Fórmula 1 em todo o mundo. Não à toa o filme passa a integrar uma seleta lista que já possui filmes como “Rush – No limite da emoção” (2013), “A arte de correr na chuva” (2019), “Ford vs Ferrari” (2019) e “Ferrari” (2023).
Espírito Santo do Pinhal, 13 de julho de 2025.